Quem foi Ada Lovelace, a primeira programadora

Ada Lovelace em pintura feita por volta de 1840

Ada Lovelace em pintura feita por volta de 1840

Aos 27 anos, Ada Lovelace escreveu um algoritmo para que a máquina analítica do inventor Charles Babbage pudesse computar uma sequência matemática. 

Esse algoritmo foi depois reconhecido como o primeiro programa de computador da história, fazendo com que Lovelace fosse considerada a primeira mulher programadora. Em sua homenagem, desde 2009 é comemorado o Dia de Ada Lovelace na segunda terça-feira do mês de outubro.

Neste texto, o Nexo apresenta quem foi Ada Lovelace, as comemorações em torno de sua figura e a participação feminina nas áreas de Stem (sigla em inglês para ciência, tecnologia, engenharia e matemática).

Quem foi Ada Lovelace

Augusta Ada Byron (seu nome de batismo) nasceu em 10 de dezembro de 1815 em Londres, filha do consagrado poeta inglês Lord Byron e da matemática Annabella Milbanke.

Ada foi a única filha legítima do casamento entre Byron, que teve outros filhos, e Milbanke. Os dois se separaram quando Ada ainda era criança. O poeta morreu quando ela tinha oito anos.

Desde a infância, sua mãe incentivou o estudo de matemática. Em uma época em que as mulheres não tinham um acesso fácil à área, considerada restrita aos homens, Ada foi cercada de tutores e intelectuais britânicos.

Um deles foi a escritora e cientista Mary Somerville, que apresentou Lovelace ao inventor britânico Charles Babbage. Por quase duas décadas, os dois trocaram correspondências sobre matemática e ciência.

Também foi através de Somerville que ela foi apresentada a William King, seu futuro marido, com o qual casou aos 19 anos, em 1835. Ele se tornou conde e ela adquiriu o título de condessa de Lovelace. Os dois tiveram dois filhos e uma filha.

“Eu agora leio sobre matemática todos os dias e estou ocupada com trigonometria e com as preliminares de equações cúbicas e biquadráticas. Então, como você vê, o matrimônio não diminuiu em nada meu gosto por essas atividades, nem minha determinação em levá-las adiante”

Ada Lovelace

em carta para Mary Somerville

Ao longo dos anos, Lovelace continuou seus estudos, chamando professores universitários para ensiná-la conceitos mais avançados de matemática.

Ada traduziu um artigo francês sobre a máquina analítica e adicionou suas próprias anotações sobre a criação. O dispositivo, que não chegou a ser construído pelas limitações da época, foi considerado depois o primeiro computador mecânico de uso geral e teria como objetivo realizar cálculos através de determinadas funções.

Além das considerações do inventor, ela descreveu como o dispositivo poderia funcionar para além de uma máquina de cálculos numéricos, seu potencial para o progresso da sociedade e o primeiro programa para um computador.

O programa calculava o sétimo número de Bernoulli. Na matemática e na programação, os números de Bernoulli, em homenagem ao matemático suíço Jacob Bernoulli, foram criados para sintetizar somas finitas ou infinitas. Ada escreveu uma descrição passo a passo para o cálculo dos números com a máquina de Babbage – era, na prática, um algoritmo que organizava as operações em grupos que poderiam ser repetidos.

Para Ada, os computadores poderiam algum dia criar suas próprias invenções e as máquinas, além de fazer cálculos matemáticos, poderiam entender símbolos e serem utilizadas para criar música e arte.

“Ela está falando sobre os princípios abstratos da computação, sobre como você poderia programar, e ideias como ‘talvez a máquina poderia compor uma música, talvez ela poderia pensar’”, afirmou Ursula Martin, cientista da computação na Universidade de Oxford, em entrevista ao jornal The New York Times em 2018.

Lovelace morreu em 27 de novembro de 1852, aos 36 anos, em decorrência de um câncer de útero.

O dia em sua homenagem

O reconhecimento por seus trabalhos não veio imediatamente. Seu obituário no jornal britânico The London Examiner, por exemplo, destacava a compreensão “inteiramente masculina em matérias de solidez, alcance e firmeza” de Lovelace, que também tinha “todas as delicadezas da mais refinada figura feminina”.

Cerca de 100 anos após a sua morte, em 1953, as observações de Lovelace sobre a máquina analítica foram publicadas sob seu real nome – na época, ela assinou o artigo como A.A.L. –, com a máquina reconhecida como um modelo inicial de computador e as observações de Ada como uma descrição de seu software.

Depois, em 1979, o Departamento de Defesa dos Estados Unidos criou um código de linguagem e o batizou de Ada, em homenagem à Lovelace, utilizado em áreas como aviação comercial e produção industrial.

A tecnóloga, escritora e jornalista Suw Charmam-Anderson criou em 2009 o Dia de Ada Lovelace, comemorado anualmente na segunda terça-feira do mês de outubro. A data celebra as conquistas de mulheres em áreas de Stem.

São feitas palestras, atividades e oficinas ao redor do mundo para incentivar a participação de meninas e mulheres e divulgar o trabalho de outras cientistas.

Em 4 de outubro, foi realizada em instituições brasileiras a “4ª Jornada Latino-americana de Oficinas em Stem para Meninas e Jovens Mulheres”, iniciativa criada pela UBA (Universidade de Buenos Aires) para promover o interesse de meninas, entre os 9 e os 12 anos, nas áreas de Stem na América Latina. 

Os eventos são feitos em escolas e universidades do país, com oficinas interativas e atividades práticas. No Brasil, os eventos foram coordenados pelo Comitê de Mulheres na Matemática Aplicada e Computacional da SBMAC (Sociedade Brasileira de Matemática Aplicada e Computacional).

32

das 83 instituições envolvidas em 2025 com o evento na América Latina são brasileiras, em cidades como Salvador, Rio de Janeiro e Lavras. O número nacional é quase o dobro quando comparado com a participação em 2024

A participação feminina

A data em homenagem à Lovelace também promove debates sobre as desigualdades que as mulheres encontram nas áreas de Stem.

Apesar de mais mulheres terem mostrado mais interesse por carreiras em ciências (como biologia, física, química e geologia), tecnologia, engenharia e matemática, essas áreas ainda são dominadas por homens.

Segundo levantamento divulgado em 2025 pela Nexus – Pesquisa e Inteligência de Dados, a partir de dados de 2023 do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), 74% dos ingressantes nos cursos dessas áreas eram homens, enquanto 26% eram mulheres.

29%

foi o aumento de mulheres que entraram nas graduações em ciências exatas e biológicas entre 2013 e 2023, segundo a Nexus

56%

foi o aumento de homens que entraram nas mesmas graduações, também entre 2013 e 2023

Além da disparidade no ingresso, a porcentagem de mulheres que se formaram nos cursos de Stem entre 2019 e 2023 caiu 48%. A taxa também recuou para os estudantes do gênero masculino, para 36%. Elas, entretanto, têm taxas de conclusão de curso maiores que a de seus colegas homens (27% e 23%, respectivamente).

“Desde a pandemia de covid-19, a taxa de conclusão vem caindo entre eles e elas, mas em maior intensidade entre as mulheres, provavelmente reflexo de impactos econômicos, como o desemprego ou a queda na renda, e de questões envolvendo as tarefas de cuidado das famílias”, afirmou Marcelo Tokarski, CEO na Nexus, em análise sobre os dados.