Crianças são parte da solução para a crise climática

As crianças são as maiores vítimas das mudanças climáticas. Em todo o mundo, elas já enfrentam enchentes, secas, altas temperaturas e deslocamentos forçados por desastres naturais. No Brasil, 40 milhões de crianças e adolescentes estão expostas a pelo menos um risco climático extremo. E a população de 0 a 6 anos, período da primeira infância, que representa hoje 8,9% da população brasileira, tende a sofrer ainda mais com esses efeitos. 

Os pequenos, que ainda não têm estrutura fisiológica para lidar com desconforto térmico extremo, acabam tendo mais doenças respiratórias e desidratação, por exemplo. Nas escolas, as altas temperaturas comprometem as oportunidades de desenvolvimento, especialmente para quem vive nas regiões mais vulnerabilizadas. 

Cada vez que uma criança encontra pelo caminho ambientes que possibilitam o brincar, toda a família tem a saúde mental e o bem-estar favorecidos

Nas capitais brasileiras, 43,5% das escolas de educação infantil não têm área verde. A maior parte delas fica em bairros pobres e de maioria negra, evidenciando o racismo ambiental. Além do desconforto térmico que prejudica a saúde e o aprendizado, isso significa que milhões de crianças, que passam grande parte de seu dia nas escolas, estão sendo privadas de seu direito de acesso à natureza.

Para proteger toda uma geração dos efeitos nocivos das mudanças climáticas e da falta de contato com o verde, precisamos que as cidades priorizem em suas políticas tanto a primeira infância quanto o meio ambiente.

A fase até os 6 anos é a mais delicada e potente da vida. Nesse período único, em que o desenvolvimento acontece em uma velocidade que não se repetirá em nenhuma outra etapa, a natureza é uma parceira decisiva: cria oportunidades de aprendizado, promove o bem-estar físico e mental, favorece a regulação emocional e oferece um espaço seguro de experimentações que reverberam por todos os outros momentos.

Ter um espaço para contato com a natureza próximo de casa é sinônimo de cuidado e uma oportunidade crucial para o desenvolvimento infantil. O conceito é simples: menos cimento, mais verde. Em vez de lugares pavimentados, precisamos de mais espaços verdes próximos, distribuídos por vários bairros, em que  brinquedos e mobiliário urbano sejam construídos com materiais como troncos e resíduos de poda, estimulando o brincar livre e o contato com elementos naturais.

Espaços verdes nos municípios funcionam como pequenos oásis: estudos mostram que as chamadas áreas verdes e azuis podem reduzir a temperatura entre 2,5º e 5º C. Cidades permeáveis, com árvores, terra, água, sombra, ajudam a diminuir a temperatura, absorver a chuva e favorecem o convívio no espaço público entre todas as gerações. O verde gera bem-estar.

Além das ruas e praças, a naturalização dos espaços pode e precisa acontecer nas escolas, que podem ser ilhas de calor ou espaços de maior conforto e bem-estar térmico, como já estão fazendo várias cidades brasileiras. Transformar as escolas é mais simples operacionalmente, de fácil implementação e manutenção e traz um grande potencial de escala. Imaginemos, por um instante, que nossas 177 mil escolas sejam mais verdes, com mais natureza, até mesmo com pequenas micro florestas sendo ali nutridas? Os benefícios não se limitam às crianças: educadores e famílias também são beneficiados por espaços mais saudáveis, naturais, divertidos e acolhedores.  

Cada vez que uma criança encontra pelo caminho ambientes que possibilitam o brincar, toda a família tem a saúde mental e o bem-estar favorecidos. Assim vamos, de um pequeno espaço verde a outro, criando locais onde não apenas a natureza se torna uma grande aliada da primeira infância, mas também a infância se torna uma poderosa aliada da natureza. 

Assine nossa newsletter diária

Gratuita, com os fatos mais importantes do dia para você

Cláudia Vidigal é representante da Fundação Van Leer no Brasil e lidera a iniciativa Urban95 no país.