13 expressões para entender a COP30 antes de ela começar 

Três pessoas, dois homens e uma mulher, sentam-se lado a lado à mesa e falam ao microfone. Atrás deles, está a bandeira do Brasil.

André Corrêa do Lago (à dir.), Marina Silva e Maurycio Lirio em entrevista a jornalistas em Brasília

A COP30, a conferência da ONU sobre mudança climática, ocorre dos dias 10 a 21 de novembro em Belém, no Pará. Essa vai ser a 30ª edição da reunião anual — a primeira sediada no Brasil e a primeira na Amazônia. Antes dela, na quinta (6) e sexta-feira (7), ocorre também na capital paraense a Cúpula dos Líderes, com a participação de chefes de Estado.

As discussões sobre a COP30 costumam ser acompanhadas de um vocabulário difícil, cheio de termos técnicos e siglas pouco familiares. São expressões que circulam entre diplomatas, cientistas e negociadores, mas raramente aparecem no dia a dia — o que pode tornar o debate sobre a conferência mais distante do público em geral.

Pensando nisso, neste texto, o Nexo explica 13 conceitos fundamentais para entender as COP30 antes de ela começar. Os verbetes se baseiam em materiais publicados nos sites oficiais da COP30 e da Convenção do Clima, no site do Nexo e na plataforma acadêmico-jornalística Nexo Políticas Públicas

COP30

A COP30 é a 30ª edição da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, um encontro global para discussão e negociações sobre a mudança climática. O evento ocorre todos os anos, e sua cidade-sede se alterna entre os países reconhecidos pela ONU. Em 2025, com a COP30, o Brasil sedia uma COP pela primeira vez. 

As COPs são realizadas pela UNFCCC, sigla para Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, ou simplesmente Convenção do Clima (para conhecê-la, veja o verbete abaixo). A primeira edição do evento ocorreu em 1995. Desde então, só não houve COP em 2020, primeiro ano da pandemia de covid-19. 

A sigla COP vem do inglês Conference of Parties, ou Conferência das Partes. As partes, nesse contexto, são os países que fazem parte da Convenção do Clima. Uma característica importante desses encontros é que eles só adotam resoluções (na forma de acordos internacionais, protocolos, emendas etc.) por consenso. 

Convenção do Clima

A Convenção do Clima é um tratado internacional que busca estabilizar as concentrações de gases de efeito estufa (leia o verbete abaixo) na atmosfera a um nível que não inviabilize a vida na Terra. Ela foi adotada na ECO-92, a Cúpula da Terra, encontro sobre meio ambiente que ocorreu no Rio de Janeiro em 1992. A partir dela, surgiram as COPs. 

198

países fazem parte da Convenção do Clima, ou UNFCCC 

A Convenção do CLima fornece a estrutura necessária para as negociações dos acordos das conferências do clima. Os dois mais importantes já adotados foram o Protocolo de Kyoto (1997), que estabeleceu metas de redução de emissões de gases de efeito estufa para países desenvolvidos, e o Acordo de Paris (2015), que substituiu o Protocolo de Kyoto (veja o verbete abaixo).

A convenção tem entre seus pilares o princípio das “responsabilidades comuns, mas diferenciadas”. Em resumo, isso quer dizer que os países desenvolvidos — os maiores emissores históricos de gases de efeito estufa — têm responsabilidade maior no combate à mudança climática do que os países em desenvolvimento. Essa ideia norteia os trabalhos dos negociadores em todas as COPs.

Acordo de Paris

O Acordo de Paris é um tratado global adotado pelos países signatários da Convenção do Clima em 2015, durante a COP21, na capital francesa. O texto tem como meta manter o aumento da temperatura média global “bem abaixo” dos 2°C em relação aos níveis pré-industriais, fazendo esforços para limitá-lo, idealmente, a 1,5ºC. 

O tratado substituiu o Protocolo de Kyoto, que restringia aos países desenvolvidos a responsabilidade de combater a mudança climática. O texto havia sido assinado em 1997, na COP3, mas não foi bem-sucedido. Os países industrializados o consideraram rígido demais, e grandes poluidores, como Estados Unidos e China, não aderiram. 

O Acordo de Paris foi considerado histórico por representar a primeira vez em que todos os participantes da COP assumiram compromissos para deter a crise do clima. Ele também inovou ao definir metas nacionais voluntárias (veja o verbete abaixo) de redução nas emissões de gases de efeito estufa e por determinar a criação de um fundo de combate à mudança do clima financiado pelos países desenvolvidos.

NDCs

Quando se fala em COP e em Acordo de Paris, é muito comum encontrar uma sigla: NDC. Ela vem do inglês National Nationally Determined Contribution, ou Contribuição Nacionalmente Determinada. Essas contribuições são, na prática, planos de redução de emissões de gases de efeito estufa que os países apresentam de forma voluntária como parte de sua adesão ao Acordo de Paris.

Os países que aderiram ao Acordo de Paris apresentaram suas NDCs pouco depois de o texto entrar em vigor. As regras do tratado estabelecem que essas metas devem ser revistas a cada cinco anos. Os países submeteram as segundas versões de suas NDCs à ONU em 2020, e devem apresentar as terceiras até este ano, 2025. 

69

países haviam apresentado novas NDCs até segunda-feira (3), segundo monitoramento do site Climate Tracker; 128 ainda não o fizeram 

As NDCs não podem recuar, apesar de serem voluntárias. Um país, por exemplo, não pode dizer na sua primeira meta que irá reduzir suas emissões em 50% até 2030, e depois afirmar, na segunda NDC, que, na verdade, irá diminuí-las em até 30%. O Acordo de Paris, ainda assim, não tem sanções para os países que descumprem essa regra. 

59% a 67%

é quanto a NDC brasileira propõe cortar em emissões de gases de efeito estufa até 2035; percentual é em relação aos níveis de 2005

Gases de efeito estufa

Os gases de efeito estufa são um conjunto de gases que absorvem parte da radiação infravermelha emitida pela Terra. O efeito disso é dificultar o escape dessa radiação para o espaço e manter a atmosfera aquecida. O dióxido de carbono (CO), o metano (CH₄) e o óxido nitroso (NO) são exemplos de gases de efeito estufa. 

O efeito estufa é um fenômeno natural e fundamental para a vida na Terra. Atividades humanas, no entanto, têm agravado esse efeito ao emitir gases de efeito estufa e aumentar sua concentração na atmosfera. Essas atividades incluem a queima de combustíveis fósseis (como petróleo, carvão e gás natural), a agropecuária, o desmatamento e processos industriais.

430 ppm

(partes por milhão) era a concentração de CO₂ na atmosfera em junho de 2025; no período pré-industrial, de 1850 a 1900, esse nível era inferior a 300 ppm 

O CO é o principal (o mais abundante) gás de efeito estufa e considerado referência para determinar o potencial de aquecimento de outros gases. É comum em publicações sobre mudança climática, por exemplo, ouvir falar em emissões de CO2 equivalente. Essa é uma medida comparativa das emissões de vários gases, tendo como base seu potencial de aquecimento global em relação ao CO₂.

21

é o CO₂ equivalente do metano (CH4); isso significa que ele absorve calor na atmosfera 21 vezes mais que o CO₂ 

Mudança climática

A expressão mudança climática refere-se a qualquer alteração do clima que persista ao longo do tempo devido à variabilidade climática natural ou a atividades humanas. No contexto da COP30, no entanto, ela se refere especificamente ao conjunto de alterações decorrente de ações humanas que lançam gases do efeito estufa na atmosfera. 

A Convenção do Clima define a mudança climática como um processo atribuído “direta ou indiretamente a atividades humanas que alteram a composição da atmosfera do globo”. Processos naturais internos, como erupções vulcânicas, ou externos, como mudanças nos ciclos do Sol, podem alterar o clima da Terra, mas são as ações humanas que causam a atual mudança climática.

A principal evidência da mudança climática é o aquecimento global. Ele nada mais é que o aumento na temperatura média da Terra expresso em relação aos níveis pré-industriais, de 1850 a 1990. O aumento na concentração de gases de efeito estufa levou a temperatura média global a aumentar 1,5ºC em 2024 em relação aos níveis pré-industriais.

IPCC

O IPCC é o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas. Criado em 1988, ele é formado por pesquisadores de vários países e faz uma síntese do conhecimento científico mais atualizado sobre a mudança do clima. Ele é organizado em três grupos de trabalho, conhecidos pela sigla em inglês WG (working group): 

O IPCC está no seu sétimo ciclo de avaliação, também chamado de AR7 — ou seja, uma sétima rodada de análise de evidências sobre a mudança climática. Os primeiros relatórios do grupo foram publicados em 1990. Todo o material já publicado é de livre acesso e pode ser encontrado no site oficial do painel. 

Mitigação climática

Dá-se o nome de mitigação climática ao conjunto de ações que buscam reduzir as emissões de gases de efeito estufa na atmosfera. Essas ações podem envolver mudanças tecnológicas (em áreas como energia, transportes, agricultura etc.) ou a implementação de medidas de conservação da natureza (que retêm carbono da atmosfera). Estão entre seus exemplos:

Adaptação climática

Dá-se o nome de adaptação ao conjunto de medidas necessárias para que um país ou região evite os efeitos da mudança climática ou, no mínimo, se prepare para eles. Em outras palavras, são ações que reduzem a vulnerabilidade das populações às consequências esperadas da crise do clima. Elas podem incluir: 

Financiamento climático

A Convenção do Clima usa o termo financiamento climático para se referir ao dinheiro destinado a ações de mitigação e adaptação. O tema é um dos mais importantes das discussões das COPs porque tanto as ações para reduzir emissões quanto as de adaptação à mudança do clima demandam investimentos em larga escala. 

O financiamento pode ser local, nacional ou transnacional, e pode vir de fontes públicas ou privadas. A Convenção do Clima determina que os países desenvolvidos devem fornecer recursos financeiros para auxiliar os mais vulneráveis a implementar suas metas, seguindo o princípio das “responsabilidades comuns, porém diferenciadas”. 

O Acordo de Paris reafirma essas obrigações, embora também incentive que países em desenvolvimento façam contribuições financeiras voluntárias. Além disso, o fornecimento de recursos deve visar a um equilíbrio entre ações de adaptação e mitigação. Apesar desses estímulos, o tema ainda é um dos principais nós das COPs recentes. 

Justiça climática

A concepção de justiça climática reconhece que a crise do clima não afeta todas as pessoas da mesma forma. Embora a mudança climática seja um fenômeno global, seus impactos recaem com mais força sobre populações pobres, indígenas, negras e vulneráveis — que historicamente contribuíram menos para o problema, mas enfrentam seus impactos mais severos, como secas, enchentes e ondas de calor.

A ideia parte da noção de que combater a mudança do clima não é apenas uma questão ambiental, mas social e ética. Ela defende que as políticas climáticas levem em conta as desigualdades e assegurem que os custos e benefícios das ações de combate à mudança do clima sejam distribuídos de forma justa entre países e populações. Isso inclui:

Zona azul e zona verde

A COP reúne um público amplo. Representantes de governos, sociedade civil, setor privado, organizações internacionais e imprensa participam anualmente das negociações e discussões sobre o clima, que, ao longo de duas semanas, reúnem milhares de pessoas. Para organizar esses grupos, o evento se divide em três principais espaços

Em Belém, parte dos espaços onde ocorrerão os eventos paralelos ficaram conhecidos como “yellow zones” (zonas amarelas). O movimento COP das Baixadas, criado por comunidades periféricas da capital paraense, afirma que o objetivo dessas zonas é “descentralizar o debate climático e deixar um legado positivo” para os moradores da cidade.

Belém também deve receber, entre os dias 12 e 16 de novembro, a chamada Cúpula dos Povos. Já tradicional na época das COPs, o evento ocorre paralelamente à conferência oficial e reúne diferentes setores da sociedade civil, como movimentos sociais e comunidades tradicionais. Em 2025, as atividades vão acontecer na UFPA (Universidade Federal do Pará).

Cúpula dos Líderes

A Cúpula dos Líderes é um encontro voltado para chefes de Estado e de governo para sinalizar compromissos políticos e definir o tom das negociações que ocorrerão na COP30. O evento vai ocorrer na quinta (6) e na sexta-feira (7) também em Belém. O Brasil diz esperar iniciativas e declarações em áreas estratégicas para o combate à mudança climática.

143

delegações (países) devem participar da Cúpula dos Líderes 

57 

chefes de Estado estão confirmados para o evento

Este conteúdo foi produzido pelo Nexo como parte da cobertura da Casa de Jornalismo Socioambiental, iniciativa que reúne profissionais e veículos de todo o país para acompanhar a COP30, a 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, que ocorre dos dias 10 a 21 de novembro de 2025 em Belém, no Pará.