Idosa caminhando com auxílio de bengala
Se um familiar ou parente mais velho reclamar de falta de força ou de dificuldade em caminhar, atente-se: pode ser um sinal de sarcopenia, uma doença musculoesquelética de diagnóstico difícil, que aumenta o risco de quedas e, nos casos mais graves, pode levar à morte.
Uma equipe da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) propôs uma modificação no método tradicional de diagnóstico da sarcopenia para identificar e prevenir a doença antes que apareçam os sinais mais severos. Uma análise com 7.065 pessoas com 50 anos ou mais que participaram do Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros (Elsi-Brasil) indicou que os pontos de corte do European Working Group on Sarcopenia in Older People (EWGSOP2) poderiam estar muito baixos. Pontos de corte são os limites a partir dos quais se evidencia o problema.
De acordo com o grupo europeu, só passam para a segunda etapa do diagnóstico da sarcopenia, a avaliação da quantidade de massa muscular, os homens com menos de 27 quilogramas (kg) e as mulheres com menos de 16 kg de força muscular, medida por meio de um aparelho chamado dinamômetro. Em um artigo publicado em junho na Cadernos de Saúde Pública, o grupo de São Carlos propõe que os valores que identificam a baixa força muscular sejam os abaixo de 36 kg para homens e de 23 kg para mulheres.
“Em outros estudo de nosso grupo, aplicamos esse novo ponto de corte e vimos que as pessoas com provável sarcopenia, apenas com baixa força muscular, com sarcopenia, que têm baixa força e baixa massa muscular, e com sarcopenia grave, que têm também baixo desempenho no teste de velocidade de caminhada, tinham alto risco de morte. No entanto, pelo critério do grupo anterior, não eram diagnosticadas e poderiam não estar recebendo atenção”, diz o fisioterapeuta especializado em gerontologia da UFSCar Tiago Alexandre, coordenador do estudo.
“Portanto”, acrescenta, “ao aumentar o ponto de corte para definir baixa força muscular, mais pessoas passam para as fases seguintes de avaliação da doença, permitindo que se adotem medidas preventivas e se evite seu agravamento e suas consequências.”
Com os novos pontos de corte, a prevalência de pessoas com diagnóstico de sarcopenia quadruplicou e a prevalência de sarcopenia grave passou de 3,8% para 8,8%, em comparação com os pontos de corte recomendados pelo consenso europeu.
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A possibilidade de revisão dos pontos de corte faz parte de um debate internacional, fundamentado nos resultados do English Longitudinal Study of Ageing (Elsa), que acompanha 12 mil idosos ao longo de 22 anos. Um exemplo do esforço global para definições nessa área é uma análise da Universidade de Murcia, na Espanha, publicada em novembro de 2025 na Journal of Clinical Medicine. Esse estudo contou com 4.994 participantes do Elsa com idade média de 70 anos e validou quatro algoritmos para identificação de sarcopenia, reconhecida em 10% da amostra analisada, principalmente em pessoas com demência.
“A proposta de aumento nos pontos de corte é um cuidado a mais, que possibilita a intervenção em uma fase precoce da doença”, defende o nutricionista Felipe Daun, da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP-USP), que não participou do estudo. “A aplicação clínica no dia a dia não será imediata, porque ainda não há um consenso na comunidade acadêmica sobre quais diretrizes adotar.”
Do estudo do grupo de São Carlos emergiram também os fatores de risco para a sarcopenia, principalmente a desnutrição, além de idade avançada, baixa renda e sedentarismo. “Em pessoas desnutridas ou em risco de desnutrição, há um maior consumo da massa muscular, o que pode agravar a fraqueza muscular”, comenta Alexandre.
Segundo ele, uma alimentação diversificada e rica em proteínas e a prática de atividades físicas regulares, em especial com exercícios de resistência, também chamados de musculação, podem evitar a perda de massa muscular, que começa aos 30 anos.
Daun participou de um estudo publicado em março de 2025 na Revista de Nutrição que mostrou que uma alimentação equilibrada, com uma proporção adequada de fontes de proteína, poderia reduzir o risco de desenvolver sarcopenia. “Trata-se de buscar as fontes mais acessíveis de proteínas”, diz ele. Sua recomendação é variar entre as fontes de proteínas animal e comer feijão todos os dias.
Segundo Daun, é importante atentar também para a estrutura de apoio: “Muitas vezes as pessoas idosas precisam de ajuda para ir ao mercado, carregar as compras e cozinhar”. Os exercícios são igualmente relevantes e, frisam os especialistas, precisam ser feitos desde cedo. “Podemos diminuir o risco de perda muscular fazendo exercícios e permitindo que as crianças atinjam o pico de massa muscular que lhes é geneticamente determinada”, defende Alexandre. “Crianças sedentárias têm maior risco de terem sarcopenia quando se tornarem adultos e idosos.”
Este texto foi originalmente publicado por Pesquisa FAPESP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original aqui.