William Bonner
William Bonner declarou na segunda-feira (1º) que irá deixar a apresentação do Jornal Nacional a partir de novembro, saindo também da função de editor-chefe. O anúncio aconteceu no aniversário de 56 anos do telejornal da TV Globo. Ele se tornará apresentador do Globo Repórter ao lado de Sandra Annemberg em 2026.
Desde 1996 na função de âncora e desde 1999 como editor-chefe, Bonner é o que mais tempo ficou à frente da bancada do Jornal Nacional. O âncora foi a voz que transmitiu acontecimentos marcantes aos brasileiros ao longo de 29 anos. Além disso, seu característico “boa noite” se tornou um marco para a televisão nacional.
“Eu já disse que essas novidades todas não são imediatas, mas desde já, eu posso falar tranquilamente em nome de todos os colegas envolvidos nessas mudanças e também em nome das equipes que vão receber os apresentadores novos. O nosso compromisso com os princípios do jornalismo da Globo são os mesmos. Assim é o nosso mundo e a nossa gratidão de contar com a sua confiança e a sua audiência”
William Bonner
âncora do Jornal Nacional, em discurso de despedida do telejornal
Neste texto, o Nexo apresenta as mudanças no jornalismo da Globo e relembra sete coberturas marcantes de William Bonner à frente do Jornal Nacional.
Em seu discurso de despedida, Bonner afirmou que a sucessão começou a ser pensada ainda em 2020, durante a pandemia de covid-19. “Naquela época, um dos meus três filhos estava de mudança para estudar em outro país. E eu sentia que nos meus dias só cabiam as coisas que eu precisava fazer, mas ficavam de fora as coisas que eu também gostaria de fazer”, disse o apresentador.
A ida para o Globo Repórter também concluirá a passagem de Bonner por todos os programas jornalísticos nacionais da emissora que já existiam quando foi contratado, em 1986. Além da apresentação, ele também fará reportagens para o programa.
O jornalista César Tralli assumirá a posição de apresentador do Jornal Nacional, ao lado de Renata Vasconcellos, na função desde 2014. Tralli estava à frente do Jornal Hoje, telejornal vespertino da emissora, e apresentava programas na GloboNews, canal de notícias da Globo.
A substituição de William Bonner como editor-chefe do Jornal Nacional será por Cristiana Souza Cruz, editora adjunta do telejornal desde 2019. A jornalista está há três décadas na Rede Globo, em diferentes funções.
Apesar de ser um dos principais âncoras do telejornalismo contemporâneo, Bonner se formou em publicidade pela USP (Universidade de São Paulo) em 1990. Começou a carreira como locutor de rádio e foi apresentador de telejornais da TV Bandeirantes.
Estreou na Globo em 1986 e se tornou apresentador do SPTV, o telejornal regional de São Paulo. Na sequência, foi titular dos programas Fantástico, Jornal da Globo e Jornal Hoje, até se tornar âncora do Jornal Nacional. Em 2022, Bonner ultrapassou Cid Moreira em tempo à frente da bancada e se tornou o mais longevo na função.
“Uma terça-feira que irá marcar a história da humanidade”. Foi assim que William Bonner deu início à edição do Jornal Nacional de 11 de setembro de 2001, data do atentado às Torres Gêmeas do World Trade Center, cometido pelo grupo Al-Qaeda. Foi o maior ataque terrorista em solo americano da história.
2.977
é o número de mortos nos atentados de 11 de Setembro de 2001
A edição daquele dia, com apresentação conjunta com Fátima Bernardes, foi quase inteira focada nos acontecimentos em Nova York e as consequências do atentado ao redor do mundo. As reportagens apresentaram relatos de brasileiros que estavam na cidade, inclusive de um sobrevivente dos ataques. Outra reportagem também mostrou a repercussão nas economias mundiais.
O jornalista investigativo Arcanjo Antonino Lopes, mais conhecido como Tim Lopes, foi morto em 2 de junho de 2002. Ele foi torturado e assassinado por traficantes do Complexo do Alemão, enquanto fazia uma reportagem sobre o tráfico de drogas e exploração sexual de menores em bailes funk na comunidade carioca.
A confirmação da morte aconteceu somente oito dias depois. A edição do Jornal Nacional, comandada apenas por Bonner – Bernardes estava na Coreia do Sul, para a cobertura da seleção brasileira na Copa do Mundo de 2002 –, detalhou o caso e fez homenagens ao trabalho de Lopes, além de alertar sobre ataques a jornalistas.
“Os traficantes que o mataram interromperam o seu plano, e devem estar acreditando que calaram a sua voz. Estão errados. A sua voz será ouvida, cada vez mais alta, em cada reportagem que nós, jornalistas do Brasil, fizermos. A sua voz vai ecoar, hoje e sempre, na redação da Globo e nas casas de cada brasileiro de bem”, declarou Bonner no final do Jornal Nacional. Na sequência, uma grande salva de palmas foi feita na redação do telejornal.
Ao longo dos 29 anos na bancada do Jornal Nacional, Bonner esteve na cobertura de três conclaves: as eleições do papa Bento 16, em 2005, papa Francisco, em 2013, e o atual papa Leão 14, em 2025. Na primeira e na última, o âncora foi enviado para apresentar o jornal diretamente do Vaticano.
Ele também ficou responsável por acompanhar o funeral do papa João Paulo 2º, em 2005. Na ocasião, ele chegou a “congelar” antes de uma entrada ao vivo, pelo frio no Vaticano. Em 2025, uma das principais reportagens de Bonner na cobertura do conclave foi mostrando a evolução da telecomunicação ao longo das eleições papais, indo desde os satélites até a internet.
Em novembro de 2010, operações da tropa de elite da polícia militar do Rio de Janeiro ocuparam a Vila Cruzeiro e o Complexo do Alemão. Mais de 200 profissionais foram mobilizados para a cobertura do Jornal Nacional, com o uso de helicópteros para as filmagens da movimentação policial e dos traficantes.
A cobertura rendeu o Emmy Internacional ao Jornal Nacional em 2011, o principal prêmio da televisão mundial, na categoria Notícia. Foi a primeira vez que um telejornal brasileiro conquistou a honraria. Bonner foi um dos representantes da equipe da Globo na cerimônia de entrega.
“Nos últimos nove anos, o JN esteve sete vezes colocado entre os quatro melhores telejornais do mundo. Seu trabalho foi reconhecido desta maneira pela Academia de Televisão. Eu acho que isso é uma prova da qualidade da TV que fazemos no Brasil, do telejornalismo que fazemos na Rede Globo”
William Bonner
âncora e editor-chefe do Jornal Nacional, em 2011
Em 28 de janeiro de 2013, um dia após o incêndio na Boate Kiss, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, Bonner apresentou o Jornal Nacional em frente ao estabelecimento. Ao todo, 242 pessoas, em sua maioria jovens, morreram na tragédia, em decorrência de queimaduras, da aspiração de gases tóxicos e pisoteamento na debandada. Outras 636 tiveram ferimentos.
A edição mostrou os primeiros sepultamentos de mortos no incêndio, reconstituição do caso e entrevistas com autoridades. Também foi exibida uma entrevista com o guitarrista e o vocalista da Gurizada Fandangueira, banda que se apresentava. O vocalista Marcelo de Jesus Santos acendeu um sinalizador em ambiente fechado e foi um dos sentenciados.
Em entrevista ao programa Fantástico em fevereiro de 2025, Bonner afirmou que essa foi uma das coberturas mais dramáticas de sua carreira.
Em meio a pandemia de covid-19, o Jornal Nacional se tornou um dos principais porta-vozes sobre o aumento do número de mortos e a expectativa pela vacinação. Por diversas vezes entre 2020 e 2021, William Bonner leu editoriais pedindo por melhores ações governamentais e se emocionou com as vítimas da doença e com reportagens sobre o isolamento social.
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é o número de mortes por covid-19 no Brasil desde 27 de março de 2020, segundo dados do Ministério da Saúde
Em 20 de junho de 2020, data em que o país alcançou o número de 50 mil mortos, Bonner criticou ações negacionistas de governantes brasileiros na condução da pandemia: “a história vai registrar também aqueles que se omitiram, os que foram negligentes, os que foram desrespeitosos. A história atribui glória e atribui desonra. História fica pra sempre”.
Quase um ano depois, em 7 de junho de 2021, o âncora recebeu a primeira dose da vacina contra a covid-19 e quebrou o protocolo do jornal para fazer um apelo. “Temos que ter um respeito e uma gratidão enorme por esses profissionais que estão em uma corrida. A gente demorou muito para começar a vacinar, e eles não têm culpa. Agora, está com eles essa responsabilidade de serem eficientes e fazerem com que os brasileiros se protejam”, disse Bonner.
Além do incêndio na boate Kiss, Bonner afirmou ao Fantástico que a cobertura das enchentes no Rio Grande do Sul está entre as mais dramáticas de sua vida. Cerca de 2,4 milhões de pessoas foram afetadas pelas inundações entre abril e maio de 2024, o maior desastre natural da história do estado, deixando 184 mortos.
Com aeroportos bloqueados, a equipe do Jornal Nacional foi a bordo de um avião da FAB (Força Aérea Brasileira), que carregava doações. O apresentador ficou 10 dias em cidades gaúchas, mostrando o cenário de enchentes e os esforços da população local pela reconstrução.
Uma das cenas mais emblemáticas foi Bonner usando uma camiseta preta ao invés do seu tradicional terno durante as transmissões.